Assim
como nas festas nas fazendas, churrasco foi feito em espeto de pau (Foto: Simão
Nogueira CG N)
Tradição na família “Lima”, a festa
em homenagem ao santo guerreiro “São Jorge” começou em 1893, como forma de
pagar promessa, agradecer as graças recebidas. e já são 121 anos, um tempo difícil de ser superado por qualquer outro evento familiar em
Campo Grande, e mesmo no BRASIL.
Aos 81 anos, Juliana de Lima Assunção
tenta se lembrar das histórias, mas a idade já atrapalha a exatidão
nas datas. Segundo ela, o primeiro encontro em
homenagem ao santo ocorreu durante a Guerra do Paraguai, entre 1864 a 1870.
A avó fez um pedido pra que a
batalha chegasse ao fim, sem sangue derramado entre seus seis filhos que estavam
no combate. Em troca, começaria a fazer a festa pra São Jorge. Tudo deu certo
e o combinado foi respeitado.
Mas só em 1893 a família organizou a
comemoração como ocorre até hoje, reunindo parentes e por anos consecutivos.
Não existe oficialmente nenhum registro, mas Juliana falou de detalhes. Contou que durante a II Guerra Mundial o
pedido foi refeito, mas dessa vez pela sua mãe, para que seus filhos não fossem
convocados para lutar.
Mais uma vez o pedido foi atendido e
a festa seguiu até 1988, até que a primeira morte tirou a graça do evento.
"Meu tio faleceu e então ninguém quis dar continuidade à tradição",
lembra.
Juliana é a mais velha da família
(Foto)
Mas o engenheiro mecânico
Amaral de Lima comunicou a família que a a festa voltaria a ocorrer, isso há 4 anos. “Nem
acreditei quando ele disse”, lembra a avó Juliana.
Desde pequeno ele diz ouvir as
histórias das festas que aconteciam no Pantanal, em homenagem a São Jorge ou
Ogum, como é chamado na Umbanda, religião da família.
As festas eram em uma fazenda e duravam três dias. Além da fartura na mesa,
havia brincadeiras e cavalgadas, contou dona Juliana. “Não é igual, mas é a mesma
essência”, comentou ela.
A reunião foi retomada de forma
menor, conta Amaral, que durante 3 anos reuniu apenas os parentes mais
próximos. Mas neste ano, ele resolveu aumentar a lista de convidados, por um
motivo novamente especial. “Fiquei em coma por três dias e sobrevivi, essa foi
a maior graça, precisava fazer maior”, explica.
Para a festa, ele mesmo preparou um
almoço, com churrasco, bebidas e sobremesas para 200 pessoas. Tudo custou 9 mil
reais, com a colaboração de amigos e parentes. “Cada um oferece o que pode”, disse.
Como forma de agradecimento a Ogum, a
tia de Amaral, a corumbaense Lelis de Lima Assunção, de 44 anos veio a Campo
Grande para montar o altar do santo na festa. Ela conta que teve câncer do
estômago, e durante o tratamento, veio a imagem do altar em sua cabeça, então
prometeu que assim que se recuperasse iria pagar a promessa, mais uma história
de sobrevivente, atribuída a São Jorge. “Eu pedi e ele me curou, e fiz o altar
como a imagem que apareceu pra mim”, conta. CG News