Rua
Terra Brasileira. Quebrada da Cidade A.E. Carvalho, zona leste de São Paulo,
madrugada de sábado. No chão do baile funk, ficou o corpo do menino Lucas
Oliveira Silva de Lima, 18, o Rei do Rolezinho. O delegado José Lopes, do 64º
DP, diz que o garoto morreu espancado. “Traumatismo craniano causado por
instrumento contundente.”
O
“Cocão, menino do morro”, assim se denominava ele, tinha 57.480 seguidores
Facebook, a maioria garotas. Era um ídolo. Orgulhoso, assumia suas origens.
Escola: Favela. Moradia: Itaquera, zona leste. Em janeiro 2014, Lucas tornou-se
celebridade depois de organizar um rolezinho no Shopping Itaquera, vizinho de
sua casa, na favela Vila Campanela. Três mil adolescentes participaram,
cantando letras desafiadoras do funk. A polícia interveio com bombas de gás.
Seu pai é pedreiro e levava o moleque pra trabalhar com ele. Mas Lucas também
tirava uns trocados atuando como estoquista. Adepto do funk ostentação, o
dinheiro ganho comprava roupas de grife. Bermudas, só usava da Oakley. O imenso
relógio dourado era da marca Invicta. Nos pés, apenas tênis Adidas. As camisas
preferidas eram polo da Ralph Lauren.
Tirando
o rolezinho de janeiro, nunca Cocão foi de frequentar DPs. As professoras da
Escola Estadual Milton Cruzeiro dizem que o aluno era o cara tranquilo. Seu objetivo
era tirar habilitação pra dirigir uma nave, quem sabe um Camaro, esportivo da
Chevrolet, sonho de consumo de dez entre dez meninos das periferias. Toda noite
ele dava um salve pros amigos, e iam fumar “narga” (narguilé).
Mas
essa tal nova classe média morena e quase favelada, assim, desejando,
comprando, consumindo, frequentando shoppings tem inimigos raivosos. Na página
de Lucas no Facebook e no Twitter esses desafetos comemoraram a morte dele com
centenas de posts.
Algumas amostras- ruins:
“Lucas
Lima foi fazer um rolezinho no inferno com Satanás.”
“Agora
os lojistas dos shoppings podem trabalharem [sic] em paz , um marginal a
menos!”
“Essa
peste já foi tarde!! Vai fazer rolezinho com o capeta!
“Menos
um fdp na sociedade.”
“Lucas
Lima, favela e o caralho! Lixo, o diabo que te leve.”
Os
amigos pretendem responder aos ataques com uma grande homenagem ao Lucas, que
gostava tanto das grifes caras e de tomar um lanche no McDonald’s. Onde mais?
No Shopping Itaquera, onde o garoto nasceu para a fama e glória ao consumo.
E
prometem, como réquiem, cantar a música do Mc Leeleko que diz:
“Agora eu
sou de outro nível, só quero viver sorrindo
Se você virou a página eu queimei o livro
Esqueci todos os problemas ser feliz esse é o lema
Então senta e chora que eu tô tomando a cena
Exalto sou periferia, sou cria desde pequeno
Pra chegar até aqui passei por muito veneno (vai vendo
Me sentia o bambambam, de carrinho de rolimã
Meu pai é meu diamante minha mãe é meu talismã
Eles viram o meu sofrimento, viu toda minha caminhada
De rolimã pra catraca, depois as rodas cromadas (e agora?)
Vai vendo até um apê na praia, moto 1100 cilindradas
Sucesso pelo estado explodindo pelas quebradas.”
Se você virou a página eu queimei o livro
Esqueci todos os problemas ser feliz esse é o lema
Então senta e chora que eu tô tomando a cena
Exalto sou periferia, sou cria desde pequeno
Pra chegar até aqui passei por muito veneno (vai vendo
Me sentia o bambambam, de carrinho de rolimã
Meu pai é meu diamante minha mãe é meu talismã
Eles viram o meu sofrimento, viu toda minha caminhada
De rolimã pra catraca, depois as rodas cromadas (e agora?)
Vai vendo até um apê na praia, moto 1100 cilindradas
Sucesso pelo estado explodindo pelas quebradas.”
Lucas se foi...
É verdade.
Mas o rolezinho continua...